Thursday, December 14, 2006

Roleta Russa


Não tenho a melancolia bêbada dos poetas malditos
Nem a inadimplência de seus enunciados etílicos.
Minha revolução cabe e sobra na palma da mão,
E na elasticidade trôpega de meus cambitos.
O resto é com vocês, mantenedores da solidão!

O velhinho, míope e gago, precisa atravessar a rua;
A boa senhora, chegar com as compras em casa;
Eu, fazer versos que os levem ao mundo da lua!
Não ao tiro de Maiakóvski e à corda de Iessiênin,
Para o suicídio, já bastam as mil obras de Lênin!

Estou neste mundo e nele me arrasto sem medida.
Sou grande demais para o meu tamanho, e daí?
Que estes versos possam ao menos confirmar a vida,
Calando a boca dos que dizem que o inferno é aqui
E fazem da alegria de chegar, lágrimas de despedida!


Comedor de Ranho

Thursday, December 07, 2006

EU

sou o avesso
em vez de ir aprendendo
fui me desfazendo
e voltando ao começo

me livrei da fé
depois de perder a alma no negócio
perdi o amor próprio
e expulsei meu ego a pontapé

perdi a vergonha na cara
e esporreei de real prazer e puro deleite
não dei às promissórias da vida o aceite
e me desfiz do que me mascara

fui deixando de lado
a solidão vazia das conversas de salão
entrei de sola com o dedo no cão
e me absolvi de todo o pecado

abandonei os jornais
doei meu gibis a um orfanato
para um asilo a TV e o rádio
e o de menos virou mais

agora tenho a mim
e comigo conto
se a morte é assim
eu já estou pronto!

Comedor de Ranho

Thursday, November 30, 2006

Dando corda


Destempero tem um preço, ô nega,
Ajoelha ao microfone e mete a boca.
Pra você só o melhor da minha porra,
Tome e pense que bebe uma cerveja.
O meu pau é gozado pra caralho,
Pro teu coração ele sabe o atalho.

Você diz que me ama quando estou dentro
E me odeia muito se estou por fora.
Pretendo resolver tudo isso agora
E você sabe como eu sou ranhento.
Ninguém é de ninguém já disse alguém,
Essa é mais velha que o Matusalém.

Quer ficar comigo? Umbigo a umbigo?
O amor é dor, li num livro esquecido.
Toque uma siririca e lamba os dedos,
Foda-se o relacionamento aberto!
Já te contei um por um meus segredos,
Agora nem vem que não tem nem quero.

Sou louco demais para uma mulher,
Mas eu vou querer se você quiser.
Coração-poeta não se domestica.
A poesia é uma fêmea ciumenta,
O amor, uma corda que dá na estica.
Suba na forca e vê se ela te agüenta!


Comedor de Ranho

Tuesday, November 21, 2006

KO, OK


O playboyzinho de merda me olhou desmerecendo
E eu já achando que o cara estava merecendo
Quando mandei fogo no isqueiro explodiu a dinamite
Para meu pavio curto nunca foi preciso convite
A garrafa partiu em cacos no crânio do malaco
Pensei em pedir vinho vendo sangue com cerveja
Mas saí no pinote porque pra briga não tenho saco
Quando olhei pra cima vi estrelas na noite negra
Não tantas quantas viu aquele filho da puta
Apressando o passo, lembrando e rindo, fui à luta!


Comedor de Ranho

Tuesday, November 07, 2006

Arranjei um cabaço pra cabeça


Está bem, sou culpado, teu cabaço
Foi para o beleléu, escafedeu-se.
Agora você quer ele de volta
E eu, o tarado, é que, cabisbaixo,
Me arrependo porque, por mais que pense,
Não consigo acalmar minha revolta.

Você preparou tudo: o vinho, a cama,
Ora bolas! , até pílulas tinha!?
Conversamos, bebemos e trepamos
Tanto tanto que minha boa fama
Ultrapassou as fronteiras da vila
E hoje me causa só perdas e danos.

Não sei onde eu estava co’a cabeça,
Não a do pau; a outra, que, bebaça,
Sustentada pelo pescoço babava
E grunhia como um porco sem defesa
Diante da faca afiada que transpassa
Seu corpo e leva a vida que o levava.

Nós dois, completamente loucos: sexo,
Drogas e punk rock, e agora essa!?
Reconstituição, plástica de cabaço!?
Sinto muito, neném, papo sem nexo,
Pra cima de mim, é outra conversa,
Vira o rabo pra cá e veja o que eu faço!

Comedor de Ranho

Wednesday, November 01, 2006

Teoria da decomposição


Minha escola literária é o boteco,
Sol da meia-noite no cu da madrugada,
Encontro de silêncios que fazem eco,
Raspa da sociedade desequilibrada.

As teorias valem durante uma rodada,
Na seguinte já virou papo de cacareco.
Frase de efeito é trovão de gargalhada,
Coitado daquele que ousar um repeteco.

Sou um soldado romântico, em pé de guerra,
Contra tudo e contra todos os contrários
À alegria e ao lirismo bêbado do poeta.

Essa fatal mira eclipsada, que jamais erra,
É o coração, arco apto para disparos
Mortais nos hipócritas ou gente como essa!

Comedor de Ranho

Friday, October 13, 2006

Aos maloqueiros do Malocabilly, aos maloqueiros que fizeram a festa de verdade
e um alerta àqueles que não entenderam porra nenhuma.


O Joio do Trigo.


Se eu dependesse de vocês pra qualquer coisa,
Morria à mingua, seco e estuporado.
Não pagam minha luz, meu gás, minha bebida,
E querem se intrometer na minha vida.
Não cagam e não desocupam a moita
E ainda acham que eu sou o único desgraçado.

Ok, vocês perderam! Eu, somente eu, venci!
O Malocabilly sustentou-os até aqui,
Vamos ver o tamanho do vazio na alminha
Nos próximos trezentos e sessenta e cinco dias.
Nenhum sinal será dado nessa tua telinha,
Nada desses alegres versos e suas alegorias!

“Provo dessa maneira ao mundo odiento,
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria!”

Talvez a estrofe acima do nosso Augusto Poeta,
Seja a afirmação vitoriosa de tudo que sentimos
E nem sempre conseguimos colocar em versos.
Mas se tem uma coisa que temos como certa
É que vocês nunca saberão quando mentimos
Ou damos voz a nossos instintos mais perversos!

Comedor de Ranho